À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


segunda-feira, 18 de julho de 2016

O diabinho da garrafa

Filho, vem de Portugal o mito do "diabinho da garrafa", ou do "cramulhão", que acabou ganhando vida e novos contornos no Nordeste brasileiro. Segundo ele, depois de seguir um ritual macabro com ovo de galinha, é possível fazer dele nascer um pequeno "demônio de estimação", que deve ser aprisionado pela pessoa em uma garrafa e alimentado com sangue. Esse serzinho diabólico torna a pessoa rica e poderosa, mas, no final da vida, leva sua alma direto para o inferno como pagamento.


Como de toda lenda, podemos tirar motivos de reflexão. Você conhecerá pessoas que cultivam seus "cramulhões de estimação" em troca de uma série de comodidades: dinheiro, fama e até "tranquilidade". Os alimentam com seu próprio "sangue": sua saúde, seu tempo, mesmo seu caráter, que deixam corroer para que eles não saiam da "garrafa". Acreditam, com isso, que o pequeno demônio lhes será fiel ou, ao menos, lhes respeitará por algum tipo de gratidão por o terem alimentado. Ledo engano. O preço final é sempre altíssimo: eles farão por seus "donos" sempre algo pior do que fizeram, com a conivência deles, aos outros.

No fim da vida, filho, o cramulhão sempre cobra o preço capital: a alma. Mas, ao contrário da história popular, ele não é um sequestro relâmpago, é um processo em que a alma vai sendo corroída sem sentir. Mais tarde um pouco - não necessariamente na morte -, nada mais dela resta e a dívida está automaticamente paga. Cada moeda, cada concessão ética feita, é sangue pingado na boca do diabinho, que o faz crescer. Ele se voltará contra o dono, devorará o dedo que vai pingar sangue em sua boca e o matará, mais cedo ou mais tarde.

Sobre seus princípios seja inflexível. Deixe suas "garrafas" limpas e tampadas para que não seja surpreendido, um dia, com um demoniozinho que se apossou dela e que garantirá a você que tomará conta com todo carinho e ainda te dando "presentinhos". O preço da flexibilidade moral é a decrepitude interior. Cuidado!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Quem está certo?

Filho, você, em muitas ocasiões, será levado pela vida a julgar palavras, histórias e verdades divergentes e precisará determinar, para si ou para os outros, quem está certo e quem está errado.


Em primeiro lugar, não fuja à sua responsabilidade. Se depende de você fazer o julgamento, muna-se de todos os dados e evidências e seja objetivo. Deixo a você algumas dicas para ajudá-lo neste momento:

  • Não se deixe contaminar pelas preferências pessoais, preconceitos e ligações emocionais. Julgamento sem buscar isenção é fraude;
  • Ouça as partes sem interrompê-las;
  • Faça as mesmas perguntas, compare as respostas;
  • Não se impressione com erudição nem com ignorância;
  • A disposição ao diálogo é ponto positivo a ser considerado;
  • A agressividade é ponto negativo a ser considerado;
  • Reconte você a história, com suas palavras, após ouvir todos os lados e veja as reações;
  • Procure detectar comportamentos viciosos com outras pessoas ou situações. O delinquente e o mentiroso normalmente se traem em muitas ocasiões e deixam rastro;
  • Leve em consideração como as partes tratam seus próximos, em especial sua família, em especial seus pais - não se esconde caráter por muito tempo dentro de casa;
  • Leia os olhos, mas não deixe que leiam os seus. Para isso, mantenha sua boca sem movimento quando olhar fixo para alguém que quer prescrutar;
  • Não se deixe arrastar para debates sem importância. Não saia do objeto de disputa.


Lembre-se: o mentiroso pode ser hábil, mas ele não pode enganar todos para sempre. Veja os sinais, esteja seguro e decida. O justo também erra. Quem se abstém sempre não é justo, é covarde.