Filho, no início do século XIX, nos Estados Unidos, muitos bares ofereciam comida grátis para quem bebesse alguma coisa. Depois da crise de 1929, se popularizou entre os economistas uma frase que fazia referência a (a impossibilidade de) essa prática antiga: "Não existe almoço grátis".
Nem o amor é sempre gratuito. Aliás, normalmente não é. O tipo mais comum de amor é uma troca, como entendiam os gregos no fileo - amor fraternal: "eu te amo, mas não pise no meu calo", "eu te amo, se você não me trair", "eu te amo até que eu me sinta mal", etc. O amor grátis era chamado pelos gregos de ágape e talvez o que conheçamos mais próximo disso é o amor de pai e mãe por um filho, o amor a Deus e outras exceções pontuais, todas um pouco acima da mundaneidade comum.
Não há nenhum problema em se valorar as coisas, seja monetária, emocional ou temporalmente. O problema é não ver esse valor e se enganar que ele não existe quando está lá. Por isso, meu filho, tome cuidado quando vir algo "gratuito". Ou seja, até existe "almoço grátis", mas é raríssimo.
Quando você compra uma roupa muito barata, ela pode ter sido confeccionada com mão-de-obra escrava ou infantil em países em que não há proteções trabalhistas. O que você deixa de pagar, está transferindo para eles. Quando você sonega um imposto, está se julgando "esperto" e onerando outros, mais honestos que você. Se você entrou no restaurante, almoçou e saiu, não se engane: com certeza alguém pagou e como foi você que almoçou, você está roubando de alguém.
Por outro lado, o mundo precisa de mais coisas grátis: não se esqueça de sempre dar algo, material e/ou espiritual, a quem necessita. Mesmo que você saiba o custo que isso terá para você, quando doar não cobre pelo que não deve ser cobrado. A cadeia de generosidade gerada ao "pagar pelo almoço dos outros" vai impedir que o mundo esfrie, se monetize e perca a gentileza que é, ao fim das contas, a marca da própria raça humana.
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