Filho, você perceberá que há pessoas de todos os tipos. Nos relacionamentos, as diferenças de temperamentos, de cultura, de educação, de princípios éticos e de inteligência emocional ficam evidentes. Hoje quero falar contigo sobre a truculência: um ato de grosseria ou até de violência verbal que, infelizmente, se tornou comum em alguns lugares no nosso país.
O poder não cai bem para qualquer pessoa - arrisco dizer, aliás, que são poucos os que estão preparados para exercê-lo. Isso é especialmente verdade em uma sociedade imatura e historicamente explorada, como a brasileira. Nasce daí a conhecida "síndrome do pequeno poder" ou "síndrome do colete": é comum que alguém que adquira qualquer posição de mando, por mais simples e inexpressiva que seja, se invista de uma empáfia inacreditável. Às vezes o síndico de um prédio ou o responsável pelo estacionamento de carros em um show se acha muito mais poderoso do que o presidente de um país. Isso levou o ex-presidente estadunidense Abraham Lincoln a enunciar sua famosa frase: "Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder".
A baixa preparação intelectual e emocional para comandar misturada à sensibilidade exacerbada dos povos latinos cria a atmosfera perigosa que explode com a faísca da falta de caráter incubada. Aí nasce a truculência, que assedia, que humilha, que constrange.
Além dos seus efeitos psicológicos profundos, com reflexos na produtividade da própria organização com chefe truculento, é também uma atitude eminentemente inútil em termos de resultados. As pessoas podem até produzir mais num espaço de tempo muito curto sob pressão desse tipo, em que o respeito é substituído pelo medo. Dá, assim, ao grosseiro a aparência de um gestor eficiente pelos impactos de curto prazo. Mas a queda que se segue é muito pior e mais duradoura. Desmotivação, perda da liderança real, fofocas, motins, aumento de licenças médicas a até de processos judiciais por assédio moral são sintomas certeiros que farão com que o saldo seja muito negativo.
Meu filho, esteja certo: a truculência é a máscara da incompetência. Quem a utiliza sempre tem algo a esconder: seja seu despreparo, sua fragilidade ou sua desumanidade. Se você tiver um chefe truculento, fale pouco e, se puder, o tire ou, em último caso, saia de onde está. O preço que se paga pela verborragia imbecil é alto - não há dinheiro que chegue.
Se você for chefe de alguém, entenda que é possível aliar gentileza e firmeza e essa combinação se torna
eficiência humanizada. Mas gasta tempo. É preciso investir em conversas
francas, em respeito, em escuta, em planejamento participativo, em
comprometimento, para transformar "1+1" em algo maior do que "2". É a gestão moderna, eficaz e inteligente, mas que ainda está distante de nossa realidade no Brasil, mas deve começar por pessoas conscientes como você deve ser. Bom trabalho!
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