À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Ser / Estar

Filho, em inglês, em francês, em alemão e em muitas outras línguas não há distinção entre os verbos "ser" e "estar". A língua portuguesa (e a espanhola) é muito rica também nesse ponto, estabelecendo uma importante diferença entre os dois conceitos, que você deve transportar para a sua vida.


Você diz que ESTÁ em casa ou É em casa? Ninguém tem dúvida de responder que está em casa, porque tem a perspectiva de, alguma hora, sair de casa ou, mesmo que não tenha, sabe muito bem que a casa não é uma condição dele. Você diz que É alto ou ESTÁ alto? Normalmente quando se é criança, o verbo é o estar - "nossa, como ele está alto!" -, enquanto que quando adulto usa-se o ser - "ele é bem alto!", porque quando adulto você não espera crescer mais.

A diferença entre os verbos, portanto, é a transitoriedade, ou, de outra forma, a impermanência. 

Essa é uma questão antiga na Filosofia: já em 500 a.C., dois filósofos gregos - Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia - divergiam frontalmente sobre a mutabilidade do ser. Heráclito dizia que tudo era ESTAR: "ninguém se banha duas vezes no mesmo rio" (a água do rio é outra, você é outro, o momento é outro); Parmênides, ao contrário, dizia que as mudanças eram ilusões e tudo era SER, uma essência unitária, imutável, perfeita. Mas será que não há entre eles um ponto de equilíbrio?

Em nós, filho, há uma parte que consideramos condição transitória, externa, e outra que consideramos imanente, parte de nós, que nos define. As pessoas têm limites diferentes para as duas coisas e isso diz muito sobre elas. "Eu SOU juiz" vs. "Eu ESTOU juiz / Eu TRABALHO como juiz" são frases completamente distintas. O primeiro acha que ele e um juiz são a mesma coisa sempre - quando ele toma banho ou faz cocô ele continua sendo juiz; o segundo separa a sua essência da sua profissão. Isso pode ocorrer em nível ainda mais profundo: "Eu SOU mulher" vs. "Eu ESTOU mulher". A primeira abordagem entende que a condição de mulher é permanente, que define sua essência; se a pessoa for, por exemplo, reencarnacionista, pode entender que essa essência ora se manifesta como homem ora como mulher, então ela está mulher - amanhã poderá estar homem.

Quem É não precisa se mover; quem ESTÁ tem para onde melhorar.

Como regra geral, medite:
  • Pergunte-se sempre quem você É. Sempre que achar uma resposta, antes de aceitá-la, pergunte-se se você não pode apenas ESTAR assim e reavalie, se for o caso.
  • Sua profissão não é o que você É. Sua condição social não é o que você É. Suas características orgânicas não são o que você É.
  • O outro que está interagindo com você também, em algum grau, É. Procure enxergar essa essência no grau de profundidade que ele se coloca e dialogue o mais próximo possível da essência e o mais longe possível da transitoriedade de sua manifestação.

A estrada para ir do PENSAR SER para o SABER ESTAR encontra-se resumida na máxima de Tales de Mileto: "Conhece-te a ti mesmo". Percorra-a com paciência e sabedoria, meu filho. Ela te levará à sua própria libertação e, no fim dela, você encontrará alguém que te espera há muito tempo: você.

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