À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sistemas de governo

Meu filho, a humanidade já testou alguns sistemas de governo ao longo da História. Gostaria de conversar com você sobre alguns deles. Conhecer conceitos, aplicações e erros poupa horas e palavras, principalmente quando surgirem os "iluminados" com soluções mágicas.


Um governo é necessário? Depende do povo governado. Uma coletividade utópica, altamente madura tanto em seus processos quanto em suas relações poderia, em tese, ser autorregulada: haveria governança sem governo. Quando aplicada a sociedades imaturas, egoístas, desrespeitosas, inconscientes e primitivas, como a nossa, a anarquia é sinônimo certo de caos.

Se o governo é exercido por um ente supremo - um rei, rainha, imperador ou imperatriz - o sistema é chamado monarquia ("governo de um só"). O perigo da monarquia é se transformar em tirania. O poder desse soberano antigamente era praticamente ilimitado (absolutismo) ou era reivindicado como vindo de Deus (teocracia). Como é impossível a uma razão medianamente desenvolvida entender uma força tão concentrada, os países que mantiveram a monarquia retiraram praticamente todo o poder do rei, sendo ele apenas uma figura de referência para o povo, comprometida com a nação acima de partidos políticos, de tal forma que dizem que ele "reina, mas não governa".

Quando um grupo governa, temos uma grande variedade de formas, das quais se destacam a aristocracia e a democracia. A aristocracia é o "governo dos mais capazes". Aqui o problema é definir "mais capazes". Outra vez: em uma sociedade de grau de maturidade muito maior do que a nossa, em que os critérios de seleção dos governantes fossem baseados em suas capacidades técnicas e éticas, a aristocracia poderia funcionar bem. Se "mais capazes" forem os mais ricos ou socialmente abastados, essa forma se transforma em oligarquia, em que um grupo governa apenas para seu interesse.

A democracia é o "governo do povo". Seu princípio de funcionamento é "uma pessoa, um voto". As decisões são tomadas pela maioria. Em sociedades desiguais, como a nossa, ela pode se degenerar na "ditadura da maioria", sufocando a liberdade. É o que acontece com muita frequência. Os "vencedores" não precisam sequer conhecer e pensar em argumentos diferentes dos deles, porque são a maioria e "os incomodados que se mudem". A democracia, portanto, não é um sistema de governo ótimo, é apenas o menos pior e mais simples para ser aplicado para o nível em que nós ainda estamos de progresso moral. Hoje nós terceirizamos a responsabilidade: depois de votar, a culpa passa a ser do político maldito que foi eleito e nós ficamos com a falsa sensação de dever cumprido. Parece suficiente?

Se juntarmos o diálogo e a participação mais efetiva à democracia, teremos talvez um passo possível chamado sociocracia: o governo da sociedade. As soluções precisariam ser consensadas em "círculos" decisórios que se tocam e sempre com vistas ao bem geral daquela comunidade. Votar seria um caso extremo, uma derrota, quando tudo o mais falhou. A maior participação geraria mais comprometimento, representatividade às minorias, forçaria maior conhecimento de causa por todos, aumentaria, assim, a criatividade e efetividade das ações.

Não se muda o mundo mudando a forma de governo. Sempre que se tentou isso, foi desastroso. Se muda o mundo mudando as disposições nas pessoas, que, por sua vez, poderão propor melhorias. Espero que sua geração, filho, de posse de novas ideias, possa nos ajudar a evoluir na governança, fazendo com que possamos dar um salto de qualidade como humanidade - verdadeiramente.

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