"Querido Tahr, ontem a parte do mundo que conseguiu dormir não tirou da mente a sua foto deitado na praia. Tivemos que olhar várias vezes porque você, com sua roupinha colorida, seu sapatinho certinho, sua posição de dormir, parecia muito com nossos filhos.
Ao contrário das imagens de guerra, numa praia calma, no silêncio da Natureza, sereno, lá estava você, depois de todo esforço para fugir do radicalismo louco, com o corpinho intacto, simbolicamente de costas para a humanidade.
'Vira, Tahr! Acorda! Levanta! Está tudo bem!', deve ter gritado aquele soldado turco que foi enviado para te pegar na praia. O mundo todo pediu isso para a foto. Mas você não se mexeu.
Ninguém entendeu nada ainda, não é, rapazinho? Como é difícil explicar as coisas para os adultos, não é? Somos nós que estamos de costas, não você! Não foi você quem não nos olhou, fomos nós que não olhamos para você! Somos nós que estamos caídos, não você! Os choros que você ouviu, pequenininho, não são por você - são por nós!
Você lutou e venceu como um valente guerreiro uma batalha muito maior do que a sua própria vida: você se sacrificou como espelho para nossas misérias, nossa frieza, nossa hipocrisia, nossa indiferença, nosso egoísmo. Nossa desumanidade. Tahr, você é nosso herói!
Tahr, nosso bebê, muito obrigado! Você fez diferença. Vá em paz."
Um belo texto. Mas preferia que não tivesse existido. Preferia que Tahr e todos os outros, não precisassem de fugir. E se precisassem, que não tivessem que morrer tentando serem livres.
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