À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Corcéis internos

Filho, você descobrirá ainda cedo que existem dentro de nós forças poderosas, algumas selvagens, com o poder de nos incomodar, de nos movimentar, de mexer conosco, para o bem ou para o mal: são os nossos corcéis internos.


Para saber como lidar com eles, é antes necessário que você os conheça. Esta a primeira lição: seja de que tipo forem, desejem o que desejarem, bons ou maus, sempre, sempre, os encare de frente. Por mais nervosos, fortes e indomáveis que pareçam, olhe-os nos seus olhos. Se estiverem escondidos em algum recanto de sua alma, não caia na tentação de deixá-los esquecidos - retire-os de lá, lance sobre eles a luz da consciência. Não tenha medo. Trancafiar um corcel pode parecer uma solução a princípio, mas no fim, quando precisar revisitar aquele cômodo, verá a extensão da destruição que ele causou, descontroladamente.

Você perceberá que os corcéis internos são basicamente de dois tipos: os que vêm do passado e os que chamam para o futuro. Os primeiros respondem por nossas tendências, nossos instintos, nossos vícios e virtudes - desejam fazer com que você continue sendo guiado por eles, como ocorreu até então. Os segundos são mais resolutos e te levam ao porvir, à mudança: são os mais difíceis de domar porque não respeitam convenções exteriores. São desses últimos o que chamo de corcel-ouro: do tipo do futuro que tem por destino direto sua vocação, seu amor, sua felicidade, mesmo que você não queira.

Você deverá decidir o que fazer dependendo do caso. Sob a luz da honestidade, veja, pense, sinta e aja. Empenhe seu coração verdadeiramente nesse julgamento - ele será mais útil a você com os corcéis do que seu cérebro, acredite em mim. Em resumo, você pode:

  • Ignorá-los. Se ignorá-los, eles farão uma bagunça imensa na sua casa interior. É sempre uma má ideia.
  • Deixá-los te pisotear. A passividade total perante eles é a fraqueza de sua condição humana. É aqui que residem frases do tipo: "a carne é fraca". Outra péssima ideia deixá-los fazer o que quiserem com você.
  • Vigiá-los. Quando não representam perigo ou ganho, apenas uma característica que te parece quase indiferente ou divertida. Deixe que caminhem à vontade, façam suas gracinhas, desde que não ultrapassem o limite do razoável. Convém de vez em quando mostrar a eles quem manda.
  • Domá-los. Domestique-os quando aquela tendência não fizer mais sentido e estiver te prendendo a algo que não faz mais parte de sua vontade de progredir. Atenção: apenas os corcéis do passado podem ser domados. Os do futuro muito dificilmente.
  • Montá-los e guiá-los. Tome as rédeas quando desejar colaborar com o corcel, cavalgar com força e coração dele, mas sua direção, sua mente. Isso te trará uma amizade com seu corcel interior que durará para a eternidade.
  • Montá-los e deixá-los te guiar. Só faça isso se souber aonde eles querem te levar. É a maneira mais libertadora, rápida e plena de cavalgar. Mas experimente-os primeiro com a sensibilidade do seu coração. Atenção: essa é a única forma de montar o corcel-ouro.

Por fim, deixe te falar do corcel-ouro: ele é arredio, inconveniente, insistente, normalmente não respeita em absoluto hora nem situação, e é raríssimo - às vezes só te encontra uma vez na vida. Não que você não possa ser feliz sem tê-lo montado - a imensa maioria das pessoas que vive uma vida que consideram boa caminharam sem ele. Mas você distinguirá os que tiveram a coragem de cavalgá-lo por seus sorrisos contagiantes, pelo brilho verdadeiro em seus olhos, por sua cumplicidade que dispensa palavras, por sua liderança inspiradora, por sua coragem de amar, por suas mãos de serviço efetivo em benefício do mundo. Estes não só apenas felizes: são plenos. São livres.

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