À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


domingo, 25 de setembro de 2016

O futuro fala

Filho, como estarmos imersos em uma realidade física causal - ou seja, em que uma saída presente de um sistema depende sempre da entrada passada dele - dificilmente conseguimos imaginar o futuro como algo concreto que nos possa influenciar. E se houver sistemas não-causais que desconhecemos? E se o futuro nos falar incessantemente e nós estivermos surdos a ele? E se ele se mostrar e estivermos cegos? E se bastar levantar o véu ilusório da realidade para encontrarmos outra realidade? Deixarei as questões da metafísica de lado para conversar com você e o futuro que já construímos em nós: nossos planos, nossas visões, nossa imaginação. Como isso te impacta hoje?


Recentemente, um conhecido pesquisador estadunidense do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Peter Senge, publicou um livro sobre o "campo do futuro" e como ele influencia a vida presente. Ele argumenta que o modelo mental de todos os grandes empresários inovadores não é construir o futuro a partir do passado, mas deixar com que o futuro "emerja" por si só, venha até você e lhe mostre o caminho. Mas como isso é possível?

Outro pesquisador do mesmo instituto, que desenvolveu a teoria de Senge (e a batizou de "Teoria U"), Otto Scharmer, diz que isso só é possível com 3 prerrequisitos, que listo aqui adaptados:
  • Mente aberta (Open mind): congelar seus paradigmas, suas certezas, mesmo seus conhecimentos objetivos passados, talvez seus princípios dogmáticos, para abrir-se para algo totalmente distinto, até ilógico num primeiro momento. O sinal de que isso está funcionando é quando o julgamento prévio daquilo que você acha absurdo vai chegando a zero e você se dispõe a analisar a possibilidade a sério.
  • Coração aberto (Open heart): entender que pode haver ansiedade e, por isso, rejeição àquilo que não conhecemos emocionalmente. Nosso "cantinho seguro", nosso "mar calmo", é muito mais cômodo do que as ondas e os ventos do mar, sem os quais o barco não pode progredir, não pode crescer. Abrir-se para ser surpreendido, até para ser ferido, é fundamental para que o novo possa tocar-lhe o sentimento.
  • Vontade aberta (Open will): a compreensão e o envolvimento não são suficientes se não nos dispomos a caminhar em direção ao nosso futuro. Nos levantarmos de onde estamos, deixando as roupas velhas para trás, abençoando-as e agradecendo-lhes a acolhida, e, mesmo com dor, darmos os passos para ir ao encontro do que queremos e/ou precisamos ser. A movimentação da vontade é a pedra de toque da realização. Um encontro com o futuro não realizado é uma perigosíssima e poderosíssima âncora no passado, que dificultará esse movimento mais à frente de forma bem contundente, sendo o prelúdio de frustração e infelicidade.

Poucos são o que, no mundo dos negócios, por exemplo - dizem os pesquisadores - são capazes de vislumbrar o futuro que já emerge. Menos ainda, digo eu, são os que, no campo íntimo, têm a coragem de fazê-lo. Mas é a melhor forma de evoluir sem espernear contra a Vida.

Não se engane com o canto sedutor do passado que te baseia. Tenha coragem de ouvir o que o futuro te grita. Abra seu pensamento, seu coração e sua vontade e, com respeito e agradecimento ao que você deixa para trás, firmeza e consciência tranquila, quando enxergar seu futuro, vá, filho: siga-o.

Nenhum comentário:

Postar um comentário