Meu filho, quando eu tinha 10 anos, caí e quase fui pisado por um cavalo que eu adorava montar. Seu avô Antonio, depois de se certificar que eu estava bem, embora amedrontado, ralado e chorando, ordenou: "Filho, levante-se e suba de novo! Agora!". Isso ocorrerá com você muitas vezes. Quero lhe explicar as sábias palavras do seu avô que, por mais de uma vez, me salvaram.
A vida é feita de montarias. Nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossos vícios, nossas virtudes, nossas histórias, nossos traumas, nossos sonhos, nossos dogmas, nossa visão de mundo, nossa alma, todos são equinos internos que nos levam a jornadas variadas, em nosso interior ou até no mundo íntimo dos outros. Há vários fatores que podem te levar a ser derrubado e se machucar:
- Inabilidade do cavaleiro. Não escolha um cavalo bravo demais para você. Saiba seus limites. Não se meta a cavalgar arrojadamente pensamentos que você não compreende, sentimentos com que você não sabe lidar, caixas de Pandora que você não saberá fechar. Para montar um cavalo selvagem, é preciso antes treinar com outros - da mesma linhagem - mais mansos. Não desista, mas vá com calma. Se for obrigado a montar um cavalo selvagem sem preparo prévio, não resista aos seus movimentos, trate a montaria como uma dança, transmita-lhe alternadamente confiança e ordem.
- Inadequação da sela. Para uma boa montaria, é preciso uma sela adequada, de tamanho certo, instalada adequadamente. Isso significa que, sempre que possível, você não deve montar os cavalos no pelo. Invista tempo negociando o mínimo, mesmo sentimentalmente, essa interação. Peça licença para entrar, sempre que possível, no espaço alheio.
- Destemperança do cavalo. O cavalo pode estar ferido ou traumatizado Sinta-o com empatia. A montaria é uma combinação entre cavaleiro - ou amazona - e animal. Você deve respeitar o momento do cavalo, avaliando-o ao encontrá-lo. Não significa que você deve se abster de montar um cavalo arredio, mas que deve demonstrar que entende o motivo de sua chateação, mas que precisa cavalgá-lo, com respeito e honradez.
Nos cavalos dos outros, você deve ter cautela redobrada. Você não tem o direito de invadir o estábulo de ninguém contra sua vontade. Nos casos em que esse convite vier implicitamente, emocionalmente ou por profunda sintonia de almas, sem o consentimento total do racional, você deve ainda mais respeito profundo a essa terra sagrada - porque você estará sem supervisão. Se você entrou, se tornou responsável por ele também.
E você poderá ser derrubado. Se sua intenção for boa, sua ação for ética e seu objetivo for nobre, não desista. Se você não subir de novo imediatamente, mesmo ferido, no cavalo que te derrubou, filho, seu medo pode se tornar trauma e, em prejuízo de você e dos outros, você deixar de realizar coisas belas com pavor de ser pisoteado novamente. Por isso, não pense: levante-se e suba de novo! Na hora!
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