Filho, era uma vez um passarinho que nasceu diferente: ele tinha uma perna azul. Procurava ser igual aos outros, e, para isso, escondia sua perninha diferente e, assim, vivia bem. Mas sua perna azul era engraçada: de vez em quando, o conduzia, sem que ele quisesse, a dançar e outras vezes lhe dava tantas cócegas que o levava a rir e cantar bem alto.
O passarinho cresceu, se desenvolveu, aprendeu a voar, como os outros. Vivia com sua perna azul uma relação de amor e ódio: ora a escondia, ora gargalhava com ela. Durante um voo, feliz, enquanto brincava com sua perninha, ele acabou se machucando quando se chocou com outro pássaro.
Um passarinho mais velho, um tanto rabugento, lhe deu a solução:
- É essa perna azul que está lhe fazendo mal! Vê os outros pássaros? Eles acordam, se alimentam, dormem, e são felizes. Há comida farta aqui. Para que voar, cantar e ... dançar tanto? Para se machucar de novo?
Convencido e decidido, o pássaro então enfaixou a perna azul bem forte para que até ele próprio esquecesse que ela existia. E não voou mais. Construiu um ninho muito bonito, bem acabado, protegido, limpo, reluzente. Era o mais belo dos ninhos, inspirava os mais jovens, orgulhava a família, trazia para ele a sensação de paz. Mas seria surpreendido...
Depois de muito tempo, a perna azul começou como que a ter vontade própria. O conduzia, sem que ele quisesse, à beira do ninho, empurrando-o para cair e voar, dava pequenas piruetas com ele quando estava distraído, para susto de todos que nem sabiam o que acontecia. Ele começou a lutar contra a perninha azul e amaldiçoá-la. Quando ela estava em silêncio, ele se convencia de que amarrá-la tinha sido sua decisão mais sábia; quando ela se manifestava, uma felicidade interna tomava conta dele, e ele se via cantando, voando e dançando, para logo se endireitar novamente.
O fim desta história, filho, você vai ter que construir. Seu caminho quem faz é você. Você e sua perninha azul, se você a deixar respirar.
(OBS: não, eu não errei o setênio)
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