Filho, este é um conhecido ditado italiano: "Experiência, mãe da ciência". Há algum tempo gostaria de escrever a você sobre a maturidade, mas estava antes verificando em mim se essa força estava, ela própria, madura o suficiente para que se tornasse um conselho.
Sócrates dizia que ele era como os outros filósofos, sabia tanto quanto eles, mas era melhor do que eles tão só pela consciência de sua ignorância: "Só sei que nada sei". A maturidade é como o conhecimento: ela foge de você - quanto mais você adquire, mais desenvolve, mais longe fica seu objetivo. Não existe, então, nível suficiente - o que eu esperava não iria chegar nunca. A maior maturidade é a consciência da própria imaturidade.
Mas nem por isso a estrada da experiência deixa de te trazer impactos significativos. A primeira dela é a mudança de ponto de vista. Você já viajou para lugares onde há mirantes, normalmente com vistas privilegiadas, seja em montes, montanhas ou construções. Repare que neles alguém já pré-selecionou algumas vistas que considerou melhores - normalmente há lunetas instaladas ali. Formam-se filas para reobservar o já observado. Os comentários são os mesmos, os mesmos sustos, os mesmos sentimentos. Não que haja algo errado nisso - você pode jogar a moedinha e ver a vista pela ocular dos telescópios. O problema é que normalmente as pessoas se dão por satisfeitas com isso. Você não conheceu o lugar de verdade. Você trocou o lugar por imagens pré-cozidas do lugar. A maturidade faz fugir a pressa: você anda, senta, olha, olha para trás, conversa com as pessoas ali, sente o cheiro do lugar, respira, se insere, imagina. Ela, a experiência, faz fazer isso também com os problemas da vida, afastando a ansiedade, a impetuosidade, o julgamento, o óbvio, para colocar em seu lugar a mente aberta, a investigação, o novo.
Foi René Descartes, em seu O discurso do método, que estabeleceu as bases para o que hoje é conhecido como método científico. Prega-se que isso é, então, ciência. Não é. Por muito útil que seja ao desenvolvimento tecnológico, é apenas um método de investigação exterior. A verdadeira Ciência está no próprio significado da palavra: conhecer, ter ciência de algo. Tudo que existe possui diversas camadas de realidade. A mais superficial é a objetiva, a concreta. A mais profunda é a do significado. O método de Descartes só prescruta a primeira. Só a experiência com sua calma, com sua sensibilidade, com seu histórico, consegue penetrar as demais: como isso pode ser útil aos corações que aqui estão? que lições metafóricas aquele objeto traz para a vida? como essa coisa reage ao movimento do Universo?
Por fim, a maturidade lhe dá uma articulação a mais na sua própria câmera do mundo: ela vai permitindo que você volte a sua luneta para você, no sentido contrário do usual. O mergulho nesse mundo interior, rico, que interage, influencia e é influenciado pelo exterior, é essencial para a verdadeira evolução. O cientista é: o que conhece a si mesmo. O vencedor passa a ser: o que venceu e si mesmo.
Valorize nos outros e deixe que venha para você a maturidade, filho, para que ela seja uma ferramenta de seu próprio progresso e, então, de sua felicidade.
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