À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


sábado, 17 de setembro de 2016

O sentimento dos outros nunca é bobagem

Meu filho, certa vez há muitos anos conversando com uma amiga que me falava de problemas que a atormentavam, recebi uma lição que desejo repassar a você. Os assuntos que angustiavam seu coração me pareceram todos menores e não entendia bem a importância que tomaram para deixá-la tão apreensiva. No sentido de transmitir essa visão e aliviá-la, disparei: "Mas isso é bobagem". Ela ficou séria, olhou para mim e disse: "O sentimento dos outros nunca é bobagem", levantou-se e foi embora. Continuamos amigos e já tive a oportunidade de lhe agradecer.


Você tem todo o direito, filho, de querer ou não ouvir alguém. Você não está obrigado a dar atenção a quem quer que seja. Você não está obrigado a demonstrar para ninguém intimidade ou disponibilidade em ajudar. Caso não queira ou não possa oferecer ao interlocutor a atenção que ele espera, seja honesto: "eu gostaria de poder conversar contigo, mas agora não posso, desculpe", "sei que o que você quer falar é importante para você, mas eu não estou num momento que posso dar a atenção que a situação merece. Nós podemos conversar depois", etc.

Você NÃO tem o direito, entretanto, de, em escolhendo dedicar a alguém sua escuta, que lhe abre a intimidade ou deposita em você confiança, tratar irresponsavelmente o que essa pessoa te oferece, seja não dando-lhe atenção, seja minimizando o alcance do problema, seja demonstrando enfado ou cansaço na narrativa.

Temos partes de nós que são fechadas, restritas, são ostras. Guardamos todos nossos segredos. Quando, por confiança, escolhemos alguém para mostrar aquilo que consideramos nossa pérola, essa pessoa não tem o direito de tratar a pérola como um pedaço de pedra. A quebra desse laço sagrado de cumplicidade é dos arranhões mais profundos que se pode fazer na alma do outro, que se abriu e, portanto, está desprotegida para você. Mesmo que sem dolo, é um ato de covardia.

Tenha cuidado, filho, para, por distração ou até de boa fé, não lidar com o devido respeito com algo que é muito caro a alguém de que você gosta. O sentimento dos outros nunca é bobagem.

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