Meu filho, nossa capacidade de evolução por vontade própria é muito pequena. Somos muito apegados ao que (pensamos que) conhecemos, ao que (pensamos que) temos. Como consequência, desenvolve-se em nós, instintivamente, o medo da mudança, o pavor do desconhecido. Felizmente a vida não se importa muito para isso e constantemente nos impõe saltos, quebras, revoluções, destruições...
Em 79 a.C. o vulcão do monte Vesúvio, na Itália, entrou em erupção e submergiu por completo a cidade de Pompeia na lava. Esse evento ficou conhecido porque os que tentaram escapar foram carbonizados pelo calor extremo e pela cinza e se tornaram "fósseis" na posição em que morreram.
Quantas vezes também construímos nossos castelos particulares e nossas "pompeias" para acomodar nossas certezas? Quantos muros erguemos em torno deles, buscando preservar-lhes das intempéries da vida, em nome da "segurança"? Logo ali atrás estão os vesúvios, prontos a explodir sobre nossos sonhos congelados, muitos ultrapassados, outros já inúteis.
Mas nem tudo na erupção vulcânica é devastador. Após transformar em cinzas nossas "casas", os irônicos e impertinentes vulcões da vida nos presenteiam com o solo mais fértil que se conhece, facilitando a reconstrução no lugar onde nada mais existe, com força, vitalidade, aprendizado e diferença. Após o período de turbulência, trabalho e sofrimento, a nova "cidade", mais pungente, mais feliz, em nada lembrará a antiga que lhe serviu de adubo. O que foi destruição ontem, hoje é renovação.
Deixo a você, meu filho, em primeiro lugar o alerta: se você souber identificar os sinais de necessidade de transformação, a vida não precisará devastar sua terra a toda hora. Esteja pronto a ver e se reinventar. Seja dócil à constante mensagem de impermanência da vida. As grandes quebras normalmente só aparecem depois de várias pequenas terem sido ignoradas.
Por fim, tenha sabedoria para identificar o momento de transformar. Nem tudo precisa ser destruído. Nem toda árvore precisa ser substituída, principalmente se ela não deu frutos ainda. Não caia na tentação do caminho fácil do que é cômodo nem na vida estéril da destruição sem motivo. Reflita, decida e siga. Mas se o monte vesúvio explodir, não tente deter sua lava. Prepare-se para, outra e outra vez, reconstruir com fé, perseverança e honestidade.
E seja grato ao Universo por queimar suas casas velhas. Tenha seu luto, chore por elas, mas não tenha medo de se debruçar sobre o solo novo para continuar seu trabalho de desenvolvimento.
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