À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Um dia

Meu filho, pense em um dia típico da vida de um adulto:

  • 8 horas dormindo
  • 9 horas trabalhando
  • 2 horas em trânsito
  • 2 horas comendo
  • 1 hora resolvendo problemas cotidianos

Sobram ... 2 horas para: família, amigos, namoro, diversão, estudos, ócio, etc.


Quais dessas atividades te tornam mais humano? Quais delas efetivamente contribuem para o seu crescimento interior, seu amadurecimento cognitivo, emocional e espiritual, para sua felicidade?

E se esse dia não fosse mais um dia típico, mas o seu último dia de vida? Como você o dividiria? Da mesma forma?

Atenção: normalmente, meu filho, não sabemos qual será o último. Sugiro, então, que você o planeje e depois vá trazendo um pouquinho dele para cada um dos outros.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Quando ... você se sentir pequeno

Meu filho, este é 1 entre 3 bilhões de segundos que uma pessoa vive até os 100 anos, de uma criatura - você - que é 1 entre 8 bilhões de pessoas vivendo em 1 dos 8 planetas do Sistema Solar, que é 1 entre 40 bilhões de estrelas na Via Láctea, que, por sua vez, é 1 entre 100 bilhões de galáxias no Universo conhecido, que é 1 entre os muitos universos possíveis. Pense nisso quando for medir o tamanho dos seus problemas.

Mas ... se não fosse ESTE exato segundo que VOCÊ está vivendo, o Universo não seria o Universo. Pense nisso quando for medir-se a si mesmo.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Convicções e conveniências

Filho, você verá que, em tese, muitas pessoas concordam em pontos basilares para a construção de um mundo melhor: pregam a paz, o bem, o amor, a gratidão, a retidão. Mas se tanta gente pensa assim, tem a alma tão consciente, por que o mundo parece se dirigir, às vezes a passos largos, para a guerra, o mal, o ódio, a indiferença, a corrupção?


Você precisará estudar nos discursos a fonte das palavras: elas nasceram da garganta ou do coração? Eles representam o que a pessoa é ou só o que acha certo ser - ou, pior, o que acha que é bonito aparentar? Na aplicação da teoria que a pessoa professa ao seu próprio dia-a-dia está a chave desse conhecimento:
  • Esbraveja contra a corrupção, mas, alegando valores altos de multas, abre exceção para si próprio e suborna um agente da lei;
  • Propala o poder do diálogo, mas é surdo e belicoso para quem lhe retira de seu conforto mental, propondo reflexões ou mostrando situações que estremecem seus argumentos cristalizados;
  • Discursa sobre a paz, mas, na intimidade do lar, alegando descontentamentos com posturas alheias, subjuga, maltrata e agride a título de autodefesa;
  • Condena a pena de morte, mas só até que algum seu querido seja vítima de grave violência e, então, passa a prontamente admitir o assassinato;
  • Censura a mentira, mas, a pretexto de autopreservação, recorre a ela sem constrangimento;
  • Promulga a justiça, desde, é claro, que ela seja aderente às suas aspirações;
  • Prega uma fé religiosa, mas dela faz retalho, aplicando para si apenas as sentenças que interessam no momento.

O que é convicção, meu filho, não se molda por situações exteriores. O que é conveniência sim. Há outros traços gerais pelos quais você poderá distinguir uma coisa da outra. Para o que vive de "ética de conveniência":
  • A culpa é sempre do outro, jamais de si próprio;
  • As desculpas são fartas e variadas, porque ele busca nelas com força o autoperdão;
  • É seletivo nas coisas que divulga, filtrando apenas aquelas que contribuem para suas escusas;
  • Tem profunda dificuldade de pedir desculpas e admitir os próprios erros;
  • A ingratidão costuma ser traço de seu comportamento.

Mas, mais importante do que detectar essas atitudes fora é identificá-las dentro: reflita sempre, meu amor, sobre o que você é e o que você ainda está em busca de ser. Seja honesto consigo mesmo e com os demais. Cuidado com radicalismos. Ouça. Guarde. Observe. Medite.

Expandir, com consciência e honestidade, o que você conhece de si próprio é o único caminho para abandonar o discurso conveniente e transformar os princípios em que você acredita em construção sólida em torno de sua essência - em convicção.

domingo, 1 de outubro de 2017

Jesus

Filho querido, vivendo em uma sociedade ocidental, você certamente ouvirá falar de Jesus. Não se deixe enganar pelos misticismos fáceis.

"Prince of peace", pintura de Akiane Kramarik com 8 anos (link)

Este homem, um carpinteiro (seria o equivalente a um mestre de obras hoje), nasceu em uma sociedade totalmente corrompida, dominada por um poder político opressor por um lado e por líderes religiosos vazios de outro. Ao contrário de muitos outros que lideraram levantes armados, ele optou pelo caminho da educação consciencial, do confronto de ideias, da coragem.

Andava com os excluídos sem julgá-los, condenava abertamente a violência física e ideológica, se cercava de pessoas simples mas com vontade de trabalho, era absolutamente assertivo numa comunidade acostumada com as exterioridades hipócritas da religião de teatro e vivia a simplicidade que pregava.

Em mais de 2.000 anos, o mundo só mudou em coisas externas. Nas batalhas interiores pelo autoconhecimento, ainda não somos diferentes das agremiações daquela época. Por isso, é importante perguntar: onde estaria ele hoje?

Nos quartos e carros confortáveis dos que dizem representá-lo? Nas construções suntuosas levantadas em sua homenagem? Nas estátuas de ouro onde dizem ter esculpido sua figura? Nas guerras levadas a cabo em seu nome? Ao lado das armas que ele próprio instruiu a guardar? No discurso fácil do conservadorismo? Da "boa família" pasteurizada? Pela proibição?

Ou ...

Com as pessoas que ainda enfrentam a fome, excluídas e esquecidas pela ganância? Quebrando, como fez, as riquezas preciosas incontáveis e inúteis em tantos corredores feitos para ele? Com as mulheres obrigadas a se prostituir para alimentar seus filhos? Nas paradas gay, lutando por respeito? Na economia colaborativa e igualitária? Ao lado dos defensores do meio ambiente? Pelo amor?

Quando ouvir falar desse personagem, meu filho, não se esqueça de quem ele foi. Retire de sua mente o que tentam fazer dele apenas em benefício próprio, tentando, com isso manter seu poder sobre o povo e subjugá-lo: um covarde insensível místico, um mágico europeu.

Leia sobre ele, e se quiser honrar sua história, entenda-o como um dos maiores revolucionários de todos os tempos - um homem do povo que inspirava a todos. E siga seus exemplos na defesa do que é justo, da humildade, da honestidade, da objetividade, da liberdade.

Talvez o Cristo esteja em algum lugar bem longe dos cristãos. Procure-o onde ele estaria e não onde dizem que ele está.