À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


domingo, 10 de abril de 2016

Querer fazer e Fazer ou A Montanha Sagrada

"Deves ter ouvido falar da Montanha Sagrada.
É a montanha mais alta do mundo.
Se lhe atingires o cume, terás apenas um desejo:
descer e estar com os que moram no vale mais profundo.
Por isso é que é chamada a Montanha Sagrada.

(Gibran Khalil Gibran em "As últimas horas de Gibran")


Filho, quando queremos muito fazer alguma coisa, criamos em nosso pensamento a cena da realização. Essa imaginação, que serve como planejamento ou simulação, por vezes nos traz um pouco da sensação de realizar. Cuidado! Este é o ponto em que você terá realmente que decidir.

Os franceses têm um adjetivo, normalmente usado de forma pejorativa, para quem concebe, planeja e nunca executa: théoricien ("teórico"). É claro que uma fonte de boas ideias é útil em vários momentos - e algumas vezes se paga muito bem por ela -, mas quem não conclui seus próprios projetos é como um médico que estudou tudo sobre o corpo humano, mas jamais atendeu a um doente.

Uma realização nasce com uma vontade, ou, como dizem alguns, um "chamado". Esse sino interno que soa, às vezes muito insistentemente, parece nos indicar - às vezes empurrar - para um caminho de autorrealização ou autodesenvolvimento.

Da vontade pulsante nasce o sonho, que é a vivência emocional dessa vontade, já com um objeto, mesmo genérico, presente. Em nossos momentos de silêncio, somos então arrebatados pela emoção e nos vemos vivendo esse sonho, como forma de dar vazão a necessidade da vontade. Atenção: muitos param aqui, filho. Numa atitude egoísta, enclausuram-se nesse mundo fictício e passam a viver dele, satisfazendo-se de sua própria imaginação, sem problemas, imperfeições ou decepções.

A realização apenas no mundo dos sonhos, no entanto, é uma plenitude vazia, que divide e aliena o ser. Deixe que a vontade te empurre para a realização que acompanha o sonho. Incomode-se em não transformar sua força produtora em algo palpável e útil. E se a vida amanhã se retirar de você, o que você terá deixado? Um nada disfarçado de sonho que só serviu para o seu deleite? Ou um símbolo de trabalho que poderá se tornar inspiração e luz para os que querem seguir seus passos? A marca que você irá deixar para o mundo, meu filho, é daquilo que você fizer, não do que quis fazer.

Dê aos seus sonhos a honra de se materializarem através do suor de suas mãos. Ou, de outra forma dizendo, volte e desça a Montanha Sagrada.

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