À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Preconceito

Filho, o cérebro é ótimo em aprender e reconhecer padrões e depois fazer entre eles associações. É por comparação que funciona nosso aprendizado e nossa memória. Sem essas funções, que viabilizaram o desenvolvimento da inteligência e a prevenção dos perigos, nós não teríamos sequer descido das árvores há milhares de anos atrás e nos tornado humanos.


"Preconceito" (ou "pré-conceito") é todo julgamento prévio que se faz baseado nos padrões cerebrais que desenvolvemos, seja por experiência própria ou alheia, sem analisar uma situação em particular. Ele não é ruim em princípio: faz parte do instinto de conservação e do método de aprendizado humano. O problema é o seu uso para segregar as pessoas.

Suponhamos que você tenha sido assaltado algumas vezes sempre por pessoas do mesmo tipo físico (estatura, cor da pele, cabelo, gênero, idade, etc.) e que esse tipo físico combine perfeitamente com centenas de reportagens que leu. Seu cérebro fará a associação do tipo com "perigo: assalto" automaticamente, queira você ou não, ao se deparar com uma pessoa que preencha aquele estereótipo. Se estiver vulnerável, então, por defesa ainda automática, você buscará uma posição de segurança imediata. Isso é preconceito, mas com uma finalidade de sobrevivência. Não adianta: ele só se desfaz com uma outra sequência de contraexemplos até que seu cérebro despolarize e desfaça os padrões. Leva tempo. Nesse caso, o preconceito não é maldade, é autodefesa.

Agora, se você está frente àquele mesmo tipo que sua mente reconhece como pertencente ao padrão "assaltantes" mas em uma situação que não oferece risco, a situação é bem distinta. Não é mais o instinto que irá guiá-lo, mas deverá ser a razão. Seu cérebro emitirá um alerta, mandando com que você se afaste da pessoa (no sentido de protegê-lo), mas sua razão precisa ser superpor a essa tendência e, aí sim, você deve parar e analisar o caso concreto: transformar o pré-conceito em pós-conceito. Se você deixar com que o preconceito ultrapasse o limite da autodefesa, sobre a qual você tem muito pouco controle, ele pode se tornar:

  • intolerância: se misturado ao orgulho;
  • rotulação: se misturado ao simplismo;
  • humilhação: se misturado à incontinência;
  • discriminação: se misturado à covardia.

Todos esses desdobramentos são antiéticos, feios e são sintomas de um pensamento pequeno, incapaz de evoluir porque não admite rever padrões e conceitos.

Conheça-se, respeite os padrões criados por seu cérebro, mas tenha inteligência para questioná-los, evitando generalizações, a toda hora. O preconceito no sentido literal precisa existir para a sobrevivência, mas sua exacerbação é contrária à vida em sociedade, ao amor e ao progresso. Honestidade consigo mesmo e respeito para com o próximo: eis o caminho para domesticar o preconceito, deixando-o em seu limite de utilidade.

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