À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Infância

Filho, se somos uma espécie tão inteligente, por que a infância no ser humano é tão mais longa do que nos outros animais? Por que precisamos de 10, 20 anos para nos tornarmos independentes e outros seres já não precisam mais da mãe pouco tempo depois de nascerem? Pode parecer um contrassenso da Natureza, mas será que é mesmo?


Ao contrário de outras espécies, nossa vida não se resume aos processos vitais. Somos seres muito mais complexos, com estruturas físicas, emocionais e psíquicas que ultrapassam e muito a necessidade de sobrevivência. Dessa forma, a pergunta correta passa a ser: o que a vida tem a nos ensinar com uma infância tão longa?

Foi moda há algum tempo atrás tentar “adiantar” o desenvolvimento das crianças, ensinando-as a andar, a falar, depois a ler e a fazer contas sempre antes da idade normal. Os pais achavam que, com isso, estariam beneficiando seus filhos num mundo competitivo. Depois, viu-se que essas mesmas crianças tornaram-se, muitas vezes, adultos sentimentalmente inseguros, frios, quando não sociopatas.

A vida tem suas fases e a Natureza não as manteve durante centenas de milhares de anos à toa. Nesses primeiros anos, a criança é altamente receptiva e tem uma visão de mundo muito positiva: um mundo bom, bonito, instigante, verdadeiro. Essa ingenuidade é essencial para que ela esteja aberta ao aprendizado e à vivência junto à sua família e, depois, a seus amigos, construindo sua personalidade. A infância é a fase em que o corpo ainda está em formação e, por isso, o ser psíquico (pensamento, sentimento e individualidade) ainda está mais livre.

Observe as gradações
Em que a planta se mantém:
Semente, ramos e flores…
Depois é que o fruto vem.
(Cornélio Pires) 

Não se adianta um desses processos de identificação (por exemplo, o racional) impunemente. O tempo parece longo, mas ele é intensamente preenchido. Não existe hora inútil. Qualquer desrespeito ao crescimento natural do ser, nessa fase, só gera desequilíbrio.

Por isso, filho, deixamos e deixaremos com que você seja criança. Deixaremos você se sujar, mas estaremos cuidando para que não se fira ou adoeça. Não te daremos respostas a perguntas que não forem feitas, mas estimularemos sua curiosidade. Não queremos uma criança-adulto agora. Queremos um adulto-adulto no tempo certo. Para isso, precisamos deixar com que seja uma criança-criança. Porque te preparamos para você mesmo e não só para o mundo. Porque te queremos inteiro e não partido. Porque te queremos feliz e não só bem sucedido. Porque te amamos. Incondicionalmente.

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