À guisa de introdução


Este é um espaço de coleção de pensamentos para meu filho Antonio.

Categorizei as postagens por fase da vida em que imagino que serão úteis a ele, divididas em períodos de 7 anos. Assim, onde estiver marcado "1setenio" são para de 0 a 7 anos, "2setenio" para 7 a 14, e assim por diante.


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Racismo

Meu filho, surpreendentemente ainda hoje, existe no mundo resquício de um pensamento muito antiquado, absurdo e vergonhoso que diz que algumas etnias (antigamente chamadas "raças") são naturalmente superiores (mais inteligentes, mais capazes e até mais honestas) a outras. Isso é o racismo, que, felizmente, já é considerado crime.


No século XV, com as viagens marítimas portuguesas e espanholas, os europeus tomaram contato com duas etnias até então praticamente desconhecidas: os índios e os negros. Adivinhe: eles ficaram felizes e resolveram entender e se inteirar de sua riqueza cultural ... ou ... tentaram dar uma roupagem às atrocidades que cometeram com eles criando teorias absurdas? Ah, essa foi fácil... Acertou: com os índios, para justificar a destruição cultural e a matança generalizada que promoveram em busca de riquezas nas Américas e com os negros para justificar o tráfico negreiro de escravos, disseram que eles não tinham alma! Problema resolvido: se não têm alma, não são seres humanos! Por isso usaram (e alguns de nós ainda repetimos, muito erradamente) o termo "descobrimento" para o Brasil: não havia "humanos" aqui, era "despovoado", logo foi "descoberto" e não invadido!

Foi no século XIX que voltaram ao tema, tentando dar a ele um ar científico. Diziam que as diferenças de cor da pele e da morfologia da face determinariam uma série de características (e limitações) dos indivíduos. Até meados do século XX havia estudos que dividiam o ser humano em 4 "raças": negra africana, negra australiana, amarela e branca. Depois do nazismo e de suas iniquidades contra os judeus alegando superioridade da "raça ariana", o conceito de raça ficou enfraquecido. O golpe de misericórdia foi dado pela Genética, que demonstrou que não existe fundamento científico (genético) algum em qualquer separação entre seres humanos e que há apenas uma raça: a humana. Todo o resto é etnia, um conceito mais social do que físico.

E então? Por que ainda hoje existem indivíduos - e até organizações - que insistem em permanecer cinco séculos atrasados no pensamento? Diante de tantas evidências científicas, já inquestionáveis, diante de tantas campanhas, diante de tanta informação, poderiam alegar ignorância? Certamente não. A única resposta possível: má fé: reeditando os absurdos do século XV para justificar a manutenção de privilégios, o roubo e a desumanidade com que são tratados muitos povos no planeta.

É seu dever ser intransigente com qualquer forma de racismo. Os seres humanos, filho, se diferenciam por suas atitudes, por seus valores, por seu esforço, por sua educação, por sua vontade e perseverança em fazer o bem. Se existe uma "cor" que deve contar é a que está dentro da cabeça e do coração e não na pele.

Um comentário:

  1. "A única resposta possível: má fé: reeditando os absurdos do século XV para justificar a manutenção de privilégios, o roubo e a desumanidade com que são tratados muitos povos no planeta."

    Na verdade essa é a justificativa para muuuitos outros preconceitos. Por que pessoas de direita acham que o indivíduo mais pobre o é porque não gosta de trabalhar? Porque é mais confortável pensar assim e justificar os privilégios quando na verdade muitas vezes quem tem mais dinheiro não tem qualquer mérito pra isso. Claro que nada é preto no branco. Existem teorias que procuram dar mérito a quem ganham mais. Porém, são estes que determinam o que é ou não mérito. Há ainda outras formas de garantir tal mérito permaneça na mesma casta. Essa ainda mais complexa porque envolve garantir que crianças pobres não tenham acesso à boa educação, aos meios de aprendizagem e principalmente ao desenvolvimento da confiança em si mesmo. São treinados para serem subalternos. Tais recursos são mais eficientes do que a escravidão porque não usa a força bruta mas o convencimento.

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